terça-feira, 11 de outubro de 2011

Allan Pugliese e Valdemir Miotello

A Responsividade Bakhtiniana e os discursos sobre o futuro.
Allan PUGLIESE; Valdemir MIOTELLO

Quando falamos de futuro, imaginamos ou ouvimos histórias de um mundo totalmente diferente do que vivemos.  Ao articular esse conteúdo vemos, em sua produção estética, essa relação com o futuro, um não acabamento, como diria Bakhtin, uma relação pré-dada, pois o acontecimento existencial em seu todo é um acontecimento aberto (BAKHTIN, 1997:122).
Esse “não acabamento” mostra um futuro que poderá ser caótico, no qual existiria o fim da humanidade ou o sofrimento para os poucos que sobrarem. A comida seria escassa e as grandes corporações dominariam a agricultura, as doenças ganhariam dos remédios, as leis não seriam mais as mesmas. Essas falas são sempre relacionadas com textos antigos, como o de Nostradamus, as profecias Maias, e até com outros discursos sobre destruições em massa que já aconteceram anteriormente na terra. Alguns discursos são re-elaborados com as novas “tendências” apresentadas pela ciência, inclusive falam do trânsito chegando ao ponto máximo que uma cidade pode permitir, ou como uma explosão solar pode acabar com todo o sistema de comunicação do mundo.
 Parece até um filme de ficção científica, mas é um pequeno exemplo de milhares e milhares de discursos que compramos diariamente quando pensamos na nossa responsabilidade com o planeta. Os publicitários e marketeiros adoram utilizar desse discurso para criar produtos e propagandas que utilizam do nosso senso de responsabilidade para vender produtos “sustentáveis”, “ecologicamente corretos”. Mas qual a minha responsabilidade perante o mundo?
Cada um de meus pensamentos, com o seu conteúdo, é um ato singular responsável meu; é um dos atos de que se compõe a minha vida singular inteira como agir ininterrupto... Eu ajo com toda a minha vida, e cada ato singular e cada experiência que vivo são momentos do meu viver-agir. (BAKHTIN, 2010:44)

Na perspectiva de Bakhtin (1997: 279), “todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua”. Essa repetição de discursos é muito parecida com a relação dos discursos antigos com os novos discursos, o que gera um pensamento lingüístico sobre essa construção: como essa manipulação do discurso hegemônico pode mudar ou não a superestrutura? A partir desse enunciado, podemos perceber indícios sobre as conversas do cotidiano influenciando o discurso hegemônico e vice-versa.
Alguns pensam que sua parte não precisa ser feita, ainda embasam esse discurso com falas como: “do que adiantaria eu fazer minha parte se ninguém faz?” Outros grupos já participam ativa e responsivamente de qualquer ideia que possa parecer uma resposta para um mundo mais sustentável, porém de forma superficial. Um exemplo disso seriam formas de energias que parecem limpas, mas na verdade, poluem mais para produzir o natural, como o carro elétrico, que em países que a eletricidade nacional tem base no carvão, poluem a mesma coisa que um carro movido a um combustível fóssil.
Na base da unidade de uma consciência responsável não existe um princípio como ponto de partida, senão o fato do reconhecimento real da minha própria participação no existir evento singular, coisa que não poder ser adequadamente expressa em termos teóricos, mas somente descrita e vivenciada com a participação; aqui está a origem do ato de todas as categorias do dever concreto, singular e irrevogável. Eu também sou – em toda a plenitude emotivo-volutiva atuante... de tal afirmação – e realmente sou – totalmente, e tenho a obrigação de dizer esta palavra, e eu também sou participante no existir de modo singular  um lugar único, irrepetível, insubstituível e impenetrável da parte de um outro. Neste preciso ponto singular no qual agora me encontro, nenhuma outra pessoa jamais esteve no tempo singular e no espaço singular de um existir único. E é ao redor deste ponto singular que se dispõe todo o existir singular de modo singular irrepetível. Tudo o que pode ser feito por mim não poderá nunca ser feito por ninguém mais, nunca. A singularidade do existir presente é irrevogavelmente obrigatória. Este fato do meu não-álibi no existir que está na base do dever concreto e singular do ato, não é algo que eu apreendo e do qual eu tenho conhecimento, mas algo que eu reconheço e afirmo de um modo singular e único. Basta o simples conhecimento para reduzi-lo ao mais baixo grau emotivo-volutivo de possibilidade. Transformando-o em objeto de conhecimento, eu o universalizo: cada pessoa ocupa um lugar singular e irrepetível, cada existir é único. (BAKHTIN, 2010:96-97)

O discurso sobre as memórias de futuro apocalípticas fazem parte do jogo em que manipular ganha relevo, pois, no cotidiano, existe uma valoração sobre ele. As pessoas sentem-se responsáveis pelo mundo, e gostam de “comprar” esse discurso apocalíptico, que fala como o mundo vai acabar, até para pensar novas estratégias para evitar esse fim. A própria irresponsabilidade de atos individuais destrutivos devem ser vistos pela ótica da responsabilidade pessoal e grupal. Esse é o grande jogo que Bakhtin enunciaria. O embate entre os discursos 

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