terça-feira, 11 de outubro de 2011

Glaucia Maria dos Reis Silva

UMA PEDAGOGA NA CINEOP
Por: Glaucia Maria dos Reis Silva[1]
gláucia.mrs@hotmail.com
Universidade Federal de Juiz de Fora

Os três campos da cultura humana – a ciência, a arte e a vida – só adquirem unidade no indivíduo que os incorpora à sua própria unidade.
Mikhail Bakhtin

Bakhtin em seu texto “Arte e Responsabilidade” leva a pensar sobre o papel que a arte exerce em nossa vida, a “ciência, a arte e a vida” devem estar incorporadas ao sujeito, sendo assim somos responsáveis pelo que fazemos e recebemos.
Trago para esse artigo minha participação em uma mostra de cinema onde foi possível vivenciar o contato com diversos filmes, pessoas e discussões. A mostra de cinema de Ouro Preto, CINEOP, acontece uma vez ao ano com exibições de curtas e longas que estão fora do circuito comercial, além de oficinas e seminários com estudiosos e especialistas da área. Ao participar deste evento pude assistir a variados filmes e perceber que há um espaço voltado para a discussão da relação entre o cinema e educação, com pessoas de diversas áreas entre comunicação, artes, cinema, educação o que proporciona ao evento uma grande diversidade de público.
Nesta mostra, participei da oficina “Cinema e Memória” e de vários seminários, o que me possibilitou pensar o cinema na educação enquanto uma forma outra de aprendizagem. O cinema além de recurso didático pode ser visto enquanto arte, desenvolvendo uma educação do olhar, o que significa ir além do que está sendo apresentado nas imagens.
Bakhtin (2010) mostra que a arte deve fazer parte da vida, desta forma acredito que ao trabalhar com o cinema nas escolas tornamos responsáveis com aquilo que iremos produzir, pois
A vida e a arte não devem só arcar com a responsabilidade mútua, mas também com a culpa mútua. O poeta deve compreender que a sua poesia tem culpa pela prosa trivial da vida e é bom que o homem saiba que a sua falta de exigência e a fala de seriedade das suas questões vitais respondem pela esterilidade da vida (BAKHTIN, 2010 p. 34).

Ao assumir um papel de educador, este deve se responsabilizar para que os elementos “ciência, arte e vida” estejam incorporados ao sujeito, assim como confirma Freitas (2009) “ser educador é se responsabilizar por essa integração entre conhecimento, vida e arte” (p. 251). Nos seminários da CINEOP, foi possível dialogar sobre o trabalho com filmes, re-pensando uma prática capaz de atuar na formação do individuo enquanto arte e como um elemento perturbador, pois como coloca Bergala (2008) “a arte, para permanecer arte, deve permanecer um fermento de anarquia, de escândalos, de desordem” (p.30) A partir do momento em que a arte nos desestabiliza, somos capazes de incorporá-la à vida, e ao fazê-lo devemos responder por isso através de um ato responsável. A responsabilidade é o que garante a ligação entre o sujeito, a arte e a ciência, de forma que a arte deve estar impregnada na vida, pois como afirma Bakhtin (2010) “Pelo que vivenciei e compreendi na arte, devo responder com a minha vida para que todo o vivenciado e compreendido nela não permaneçam inativos”. Desta forma, acredito que ao trabalhar com o cinema na educação deve haver uma preocupação em torno do conhecimento que será construído, não sendo um simples reprodutor de conteúdos, mas sim como coloca Freitas (2009),
um conhecimento marcado pela beleza da imagem, do som, das letras que fazem rir, chorar e encantar. Um conhecimento que não seja algo estéril, meramente reproduzido e memorizado mas algo que problematize, que leve a buscas de novas respostas, que ajude os alunos a compreenderem e se inserirem responsavelmente no mundo em que vivem. Um conhecimento que transforme alunos e professores não em meros repetidores, mas em autores, autores de suas palavras, criadores de novas possibilidades. ( FREITAS, 2009,p.251)

A CINEOP contribuiu para que eu desenvolvesse meu olhar sobre as imagens fílmicas, aumentando meu repertorio e repensando minha prática para utilizar e assistir filmes. O texto “Arte e Responsabilidade” mostra que devemos ser “apaixonados” pela vida, respirar e produzir arte assumindo nossa responsabilidade. Desta forma, a partir do estudo do texto e a participação em uma mostra de cinema me situo enquanto sujeito histórico-social a fim de repensar e re-construir minha compreensão do cinema como obra de arte e de como incorporá-lo à vida.

Referências:
BAKHTIN, Mikhail. A arte e responsabilidade. In: Estética da criação verbal. São Paulo: WMF Martins fontes, 2010. 5ª Ed. P. 33-34.
BERGALA, Alain. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Ser no mundo e responder os desafios da contemporaneidade: diálogo de uma educadora com Bakhtin. In.: Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso – GEGe. CÍRCULO – Rodas de Conversa Bakhtiniana 2009 – Caderno de textos e Anotações. São Carlos: Pedro & João Editores. 2009. P. 246-251.



[1] Integrante do Grupo LIC/UFJF, bolsista PIBIC/CNPq, orientanda da professora Dr. Maria Teresa de Assunção Freitas.

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