segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Jhon Müller Nascimento Monteiro

A Compreensão da Enfermagem como forma de Alteridade: A Alma que e o Outro não sente.
Jhon Müller Nascimento Monteiro
Universidade Federal do Pará – UFPA


“Quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente vivenciáveis não coincidem. Porque em qualquer situação ou proximidade que esse outro que contemplo possa estar em relação a mim, sempre verei e saberei algo que ele, da sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as partes de seu corpo inacessíveis ao seu próprio olhar – a cabeça, o rosto, e sua expressão -, o mundo atrás dele, toda uma série de objetos e relações que, em função dessa ou daquela relação de reciprocidade entre nós, são inacessíveis a mim e inacessíveis a ele.” (2003, p.21)

No campo da saúde, especificamente na enfermagem, destaca-se uma intrínseca relação de alteridade com o próximo. Uma vez que o profissional de enfermagem se coloca constantemente a serviço do outro. Dessa maneira, o entendimento da ação ética do enfermeiro neste campo transcende a abordagem da ciência. Esta é marcada pela impessoalidade e a distância, enquanto que aquela visa ao processo para entender, enxergar, ver o mundo de dentro do outro, colocar-se no lugar dele e assim cuidar do seu sofrimento. Compreende-se, por meio disso, que o trabalho do enfermeiro parte de fora (da doença física) para dentro (da forma com que este procede para aliviar suas dores, seus sofrimentos, suas angústias). Esse primeiro momento de assumir o lugar do paciente – compreendê-lo – consiste ao que conhecemos como empatia, segundo a teoria bakhtiniana.
“Quando me identifico com o outro, vivencio sua dor precisamente na categoria do outro, e a reação que ela suscita em mim não é o grito de dor, e sim a palavra de reconforto e o ato de assistência. Relacionar o que se viveu ao outro é a condição necessária de uma identificação e de um conhecimento produtivo, tanto ético quanto estético. A atividade estética propriamente dita começa justamente quando estamos de volta a nos mesmos, quando estamos no nosso próprio lugar, fora da pessoa que sofre, quando damos forma e acabamento ao material recolhido mediante a nossa identificação com o outro, quando o completamos com o que é transcendente à consciência que a pessoa que sofre tem do mundo das coisas, um mundo que desde então se dota de uma nova função, não mais de informação, mas de acabamento: a postura do corpo que nos transmitia a sua dor tornou-se um valor puramente plástico, uma expressão que encarna e acaba a dor expressa e num tom emotivo-volitivo que já não é o da dor; o céu azul que o emoldura tornou-se um componente pictural que traz solução à dor.” (BAKHTIN, M. Estética da Criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p.47)

O retorno do Eu – segundo momento da relação enfermeiro-paciente – é a forma como o enfermeiro procede, levando em consideração o que é a arte de ser um profissional dessa área. Ou melhor, deve-se compreender o Outro. Também é necessário ter conhecimento de que, como todo o ser humano, a alma é individual, é apta só a quem pertence à vida que carrega ela – a sensibilidade do Eu não é a mesma sensibilidade do Outro.
Dessa maneira, cabe ao enfermeiro, ao exercer a sua profissão, enxergar o que o Outro não vê, ter um campo de visão que excede o campo da visão do Outro para poder ajudar completamente o outro a quem o profissional cuida.
Apesar de haver um estudo, uma preparação para tais profissionais da enfermagem, no Brasil, há muitos casos em que esse outro não é levado em conta, como os que aconteceram no mês de agosto, em Belém – uma mãe, grávida de sete meses, teve o atendimento recusado em dois hospitais. Os bombeiros foram chamados para tentar ajudar, mas o atendimento voltou a ser recusado, e um dos bombeiros, vendo que a criança estava prestes a nascer, tentou fazer o parto, porém era tarde: a criança nasceu morta. A única justificativa foi a de superlotação nas unidades. Contrapondo esse caso, ainda no Brasil, existem equipes formadas por profissionais da saúde, como na Clínica da Alegria, que tem a maioria da equipe formada por profissionais da enfermagem que trabalham diariamente usando com sensibilidade às necessidades básicas de um ser humano, segundo Abraham Maslow, psicólogo americano, divididas em cinco partes – a fisiologia, a segurança, o social, a estima e a auto-realização. O compreender o outro se torna fundamental. Cada paciente tem a sua necessidade, as relações de alteridade ficam evidentes em torno desse trabalho. Na Clínica da Alegria os profissionais se vestem de palhaços para ajudar a tornar menos difícil a dor das pessoas que se encontram num leito de hospital ou vivendo em creches ou asilos. A proposta é levar uma mensagem de alegria, carinho e otimismo a quem – o Outro (paciente) –, muitas vezes, já perdeu as esperanças, ajudando-os a lidar com sua própria dor. Assim, também o Eu (profissional) da Enfermagem, aprende a lidar com as suas próprias fraquezas. Seguindo a idéia do filme “Patch Adams – O Amor é Contagioso”, que conta a história real de um paciente que se torna médico em uma instituição para doentes mentais e utiliza métodos nada ortodoxos de tratamento.
Os casos se tornam diferentes pela relação do eu para o outro. No primeiro caso, a relação de alteridade foi estabelecida, porém, pela pessoa que não era capacitada, mas assumiu o lugar do outro (paciente), e, como resposta a isso, retornando para si, realizou o ato ético de tentar socorrer o outro. No segundo, já temos o caso em que a relação de alteridade é o mais importante, sabendo compreender cada outro, a partir do momento em que se coloca no lugar dele, reconhecendo a sua integridade e a sua alma.

Referencias Bibliográficas:
BAKHTIN, M.(VOLOCHINOV) Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Editora Hucitec, 1997 a.
BAKHTIN, M. Estética da Criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997b.
BRAIT, B. & MELO, R. de. Enunciado/ enunciado concreto e enunciação. In: _______ BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: contexto, 2005, p. 62-77.
CLARK, K. & HOLQUIST, Mikhail Bakhtin. São Paulo: Perspectiva, 2004.
FIORIN, J. L. Polifonia textual e discursiva. In: FIORIN, J. L.; BARROS, D. L. de (Orgs.). Dialogismo, polifonia, intertextualidade. São Paulo: Editora da USP, 2003, p. 29-36.MIOTELLO, V.; NAGAI, E.; COVRE, A. et al. Quimera e a peculiar atividade de formalizar a mistura do nosso café com o revigorante chá de Bakhtin. São Carlos (SP): Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso – GEGE, 2004.
Cunha, Alexandre. O Objeto de Estudo da Antropologia.
LIMA, MARIA J. O que é enfermagem.

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